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Wednesday, September 05, 2012

OS MECANISMOS DA IMAGINAÇÃO

1-2 -70-06-14-ls- leituras do ac - 4100 caracteres-calao-literat-manifest-terça-feira, 3 de Dezembro de 2002

CALÃO E LINGUAGEM POÉTICA
CALÃO E VANGUARDA LITERÁRIA
OS MECANISMOS E DISPOSITIVOS DA IMAGINAÇÃO

14/Junho/1970 - A cada grupo sociocultural (e até a cada estrato ou classe) corresponde uma linguagem ou estrutura linguística.

O calão usado por certos escritores, como James Farrell, é uma das grandes descobertas (poéticas) feitas pela literatura de vanguarda, a pop-literatura que não deve confundir-se com as vanguardas elitistas de experimentalismos, novos romances e que tais. Enfim, com os muitos neo-academicismos de que está cheio o campo da chamada e alegada Modernidade literária.

Assim como a criança, o louco, selvagem têm as suas estruturas linguísticas próprias, os seus uni-versos ou unidades culturais, também o «lumpen-proletariat» pode ter a sua.

Allen Ginsberg, ao citar escritores de quem se sente mais influenciado, refere Jean Genet e o seu poder de usar o calão como forma literária.

James Farrell teria sido um dos primeiros americanos a explorar o grande campo «pop» do calão e a força literária de raiz que dele se extrai.

Pelo calão, compreendemos como a experiência literária é indesligável de uma experiência existencial, humana, socio-cultural (se se quiser usar o calão sociológico corrente...).

Henry Miller, Jean Genet, Violette Leduc, Albertine Sarrasin, Carlo Emidio Gada, James Baldwin, Pier Paolo Pasolini, Caryl Chessmann, Jerzy Kosinski, William Burroughs, vieram quase todos do cano de esgoto.

Pelo calão se sabe também como o calão anda tão perto do máximo de originalidade, de imaginação e de criação poéticas, do mínimo de ênfase e estrato cultural.

Calão é uma variante da linguagem poética e pode colocar-se ao lado de outros mecanismos que accionam e fomentam a imaginação: colagem, discurso automático, humor, associação a distância, etc.

Recorde-se o que significa para Georges Bataille este corpo-a-corpo do escritor com o Mal e o que ele entendia da literatura e o que a literatura deveria, em essência, ser (embora utilitariamente possa ser muitas outras coisas): o tal corpo-a-corpo com a Heresia. O calão é uma das linguagens da Heresia.

Reivindicando uma literatura «malcriada», está-se a bolir com os estratos de vencidos, de humilhados e ofendidos -- o Quarto Mundo do «underground» -- que não têm maneiras nem palavras polidas, que não têm mesmo palavras (já se falou no «silêncio do subdesenvolvimento» através de três filmes recentes: «A Ilha Nua», de Kaneto Shindo, «Vidas Secas» e «Remparts d'Argile» de Bertuccelli), indivíduos e povos que não têm maneiras educadas, morais, decentes, elegantes da classe possidente, a classe que empurra para o esgoto os detritos humanos que vai subproduzindo, a classe que aferrolha os indesejáveis em guetos da periferia, a classe que enche os cárceres e os hospitais com as vítimas que vai fazendo.

É triste ver como, em certo sentido, certo neo-realismo não fez mais do que linguajar à pipas, à fina, à classe dominante.

Exemplos portugueses de «literatura malcriada» há poucos mas ainda há alguns: Fialho de Almeida, Raul de Carvalho, António José da Silva, Gil Vicente, Camilo, Luís Pacheco, Virgílio Martinho, Cesariny, Gomes Leal.

14/Junho/1970♠












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ANTOLOGIA DE PENSADORES 1970-III

1-2 - 70-06-14-ls- segunda-feira, 9 de Dezembro de 2002-scan

A DIALÉCTICA EM ACÇÃO:
NOVA RELIGIÃO OU
A GRANDE SÍNTESE QUE SE PROCURA?
14-06-1970 - Fundamentalmente questão de equilíbrio - logo de movimento - a dialéctica nunca poderá ser operação simplesmente mental.

O seu uso e exercício depende, como qualquer outra arte, de uma técnica inicial e logo de uma aprendizagem, mas também de pendor inato, de certo talento e, digamos o chavão metafísico, de vocação.

Adquire-se e aprende-se a técnica e ciência que nela haverá, mas virá a depender muito da arte que nela se puser. Arte, quer dizer, de intuição, de poder imaginário, de espontâneo raciocínio, etc.

Porque ser dialéctico na acção é relacionar tudo constantemente com tudo, detectar afinidades, superar antinomias, unir campos desavindos, contrapor teses ou teorias antagónicas, reconciliar termos antinómicos, o que não se consegue por operações analíticas sucessivas mas por sucessivas operações de síntese.

Agir no pensamento e pensar na acção (como provam hoje os lideres mundiais da dialéctica) exige, não há dúvida, vocação... Assim as circunstâncias históricas a coadjuvem e vê-la-emos nascer, florir, frutificar.

Compreender, compreender, compreender.

PENSAMENTO DE ENCRUZILHADA

O encontro de Marx e Freud significa nos pensadores da Escola de Frankfurt (Fromm, Adorno, Marcuse, Benjamim) um esforço de aproximação que, mesmo quando não reconhecido de boa vontade, fez recuar os "handicaps" da tecnicidade e avançar, portanto, o espírito vivo do humano, sobreposto às antinomias dilacerantes.

Quando Sartre critica a razão dialéctica, e escreve o seu famoso prefácio sobre a questão do Método, abre caminho a uma faina capital do homem contemporâneo: tentar o entendimento, convívio e aggiornamento do colectivo e do existencial, digamos, entre marxismo e existencialismo.

Já agora, não se menospreze o que tem sido o braço estendido de Garaudy às alas mais progressivas do pensamento católico, e o que tal significou de heresia para os ortodoxos mais ortodoxos... Mas a verdade ou o caminho a caminho dela, não será sempre herética?

Althusser e Lucien Sebag seriam, já agora, momentos assinaláveis do encontro estruturalismo-marxismo.

Dir-se-á que resulta de tudo isto um inquietante ecletismo? Ou uma abertura à reconciliação do homem consigo próprio, dividido nas teorias que o tentam explicar?

Contributo a uma panorâmica no campo teórico, devem citar-se os Encontros Internacionais de Genebra que anualmente fazem a mise au point dos temas e problemas capitais. Os que ali concorrem, não vão para mudar de opinião ou teoria, mas o confronto e vivo debate entre elas servem ao leitor, visam uma pedagogia não do ecletismo mas da síntese.

Lugar onde do pensamento e ponto de encontro de pensadores, os Encontroa de Genebra não fazem nenhuma revolução mas antecipam a mentalidade planetária, ecuménica e universalista de amanhã. A Civilização do Universal será um título de René Maheu, director-geral da UNESCO.

NOVA RELIGIÃO OU A GRANDE SÍNTESE QUE SE PROCURA?

Fala-se de uma nova religiosidade que, sob formas mais ou menos disfarçadas, estaria a invadir o campo do ateísmo generalizado. Mas o que talvez esteja a suceder não será bem um retorno (nunca se retorna) a formas de religiosidade, mas à reintegração num estado psíquico essencial e totalizante que a devoção religiosa em certa medida preenchia, após já a degradação da unidade que a experiência mágica muito melhor possibilita.

A metafísica teria falhado nessa tarefa de substituir Deus no coração dos homens. E hoje se procuraria o "ponto central" ou a grande síntese, parecendo tudo isso (por ser parecido) a mesma coisa - mas não sendo. Na espiral da evolução, algo se assemelha sempre a algo e tudo é diferente de tudo.
Reabilitando a magia, o surrealismo sabe porque o fez: a magia é à sua maneira uma dialéctica mais completa do que a dos livros, uma técnica de exorcismar forças e forçar a realidade a obedecer-lhes, uma forma de (sub)-entendimento entre o homem e o mundo muito mais eficaz do que a religião ou a metafísica.

A técnica, fórmula evoluída de magia e processo de dominar a natureza, apenas lhe falta para ser uma grande coisa em vez de uma coisa perniciosa, aplicar-se onde a magia natural e espontaneamente se aplicava: o poder do homem sobre si próprio. À técnica apenas lhe falta descobrir o poder do homem sobre si próprio.

DIALÉCTICA DA IMAGEM

A metáfora é a dialéctica da imagem.

Nem outra foi a importância do surrealismo em geral e das suas descobertas em particular: o discurso automático, o non-sense, o humor negro, a colagem, permitindo associações a distância de todos os tipos, permitiam e fomentavam o encontro dos desavindos, a aproximação dos distantes, o confronto dos contrários.


A metáfora ou imagem poética deixa então de ter uma função de embelezamento ( função da escola romântica) para passar à categoria de conhecimento.

O pensamento analógico desafia então o pensamento lógico para saber qual dos dois traduz com maior fidelidade o movimenta da vida, a multiplicidade do mundo, a complexidade do homem.


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ANTOLOGIA DE PENSADORES 1970-II


70-06-14-LS- segunda-feira, 9 de Dezembro de 2002-scan

SÍNTESE NA EXPERIÊNCIA

[ 14-6-1970] - A necessidade de síntese é outro leit-motiv dos artigos ali apresentados. A vivência ou experiência apresenta-se a quase todos como parte integrante e vital de um novo, de um próximo, de um futuro humanismo. A síntese realiza-se, desta feita, no laboratório de cada um. Ensaiar o pensamento é apresentar um itinerário, pontuado de datas, um diário de pesquisas e inquietações.

O verdadeiro pensador contemporâneo do futuro não notifica o pensar alheio ( o imprescindível para prefaciar o seu) ou as alheias experiências. Não vive nem pensa por procuração. Realiza em si, por necessária assimilação, a síntese de todas as análises. Recria a ordem a partir do caos de conhecimentos a que a divisão das ciências reduziu o homem moderna.

Falar de si é sempre e afinal mais importante (porque original e global) do que falar de algo exterior e estranho. Testemunhar parece o caminho de um filosofar prospectivo, que cada vez mais desdenha o discurso erudito, a oração de sapiência, o cadeirão académico, que se recusa a mimetizar e a reproduzir. No caos das ciências subdivididas e multiplicadas, o conhecimento humaniza-se pela prática ("connaitre" é "nascer com"), a teoria vitaliza-se.

ACTORES DA HISTÓRIA

Pensar a História e comparticipar simbolicamente da acção, eis o consciente ou inconsciente objectivo do que procura trocar o laboratório, a cátedra ou o gabinete pelo mundo a transformar.

A primeira civilização que se contesta a si própria (André Malraux) é também a civilização em que se perdeu a "identidade entre o homem e o cosmos, entre o Homem e Deus" (ainda segundo Malraux) .


Pela filosofia e seus teóricos, procura-se a unidade ou identidade perdidas. Mas a filosofia, enquanto linguagem, é ainda símbolo desligado das coisas. O filósofo novo procura, pois, (Malraux exemplifica ao fazer das suas anti-memórias uma suma filosófica) reunificar o mundo através da experiência-vivência, da qual não pode nem quer desligar a teoria.

Mais ou menos, este índice é comum aos escritores apresentados: filosofam pela experiência e, tendo a noção explícita ou implícita da dualidade filosofia-história, pensamento-acção, teoria-prática, procuram a unidade sendo actores e agentes dessa história. No acto e na acção de escrever.

Pensam a História enquanto comparticipam simbolicamente da acção.

Maio de 1968 serve de exemplo à vaga de síntese (o essencial do essencial) que caracteriza, por causa e por efeito, o pensamento de uma circunstância revolucionária. Todo o supérfluo e analítico se substituem, então, por força da eficácia requerida na acção, da urgência na síntese.

Na vasta literatura inerente, se há casos de psitacismo inútil, podem no entanto ver-se outros típicos da palavra-experiência, do pensamento-acção. Especialmente, é claro, se nos reportarmos aos líderes, aos actores, e não aos comentaristas ou aproveitadores do sucesso.

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ANTOLOGIA DE PENSADORES 1970-I

70-06-14-ls- segunda-feira, 9 de Dezembro de 2002-scan

IMAGE+ACTION = IMAGINACTION
OU A FILOSOFIA CONTRA A TECNICIDADE

14/Junho/1970 - Curioso fenómeno de transfert é o que se verifica nas atribuições específicas hoje preconizadas, em face das possibilidades abertas pela tecnologia ao fabrico do que antes se entendia criado.

Quer dizer: enquanto a música se abeira, sistematicamente, não só do cálculo matemático mas dos ordenadores - que tomam o lugar executivo do compositor, ficando este embora com o encargo de pensar a obra, de a ditar -, enquanto os poetas entregam também aos computadores o encargo de fabricar as endechas que eles já desistiram de criar, os cientistas e filósofos da ciência, talvez desiludidos com o que estarrece e fascina os não técnicos (sempre somos um pouco pacóvios e provincianos em relação às especialidades dos outros...) aplicam-se aos campos da imaginação criadora - tradicionalmente feudo privado de escritores, artistas, poetas e demais "reveurs".

É uma espécie de intercâmbio, segundo a lei das compensações: os artistas vão sujeitar-se à disciplina positiva das matemáticas; o filósofo, o técnico, o economista procuram exorbitar dessa disciplina e reganhar o imaginário, quer dizer, a experiência-vivência não permitida pelo uso e abuso da máquina. A máquina faz tudo por nós...

Alguns dos artigos aqui inseridos são viva prova disso: homens saídos dos áridos campos da Economia, da Política, da Sociologia, da Ecologia, afirmam-se entusiastas de uma Prospectiva que é, nem mais nem menos, do que a imaginação aplicada em campos de onde tradicionalmente se considerava avessa e arredia.

Josué de Castro ilustra o que dizemos.
Prodigioso génio da síntese e criador vertiginoso do essencial, do que importa, do que marca, até pela clareza expositiva do seu estilo ele é bem um artista, um criador, um agente activo da cultura.

Com ele, o cientista deixa de ser um técnico mas sem abandonar a mais estrita tecnicidade para ser o que faz o permanente intercâmbio entre as especialidades parcelares e as generalidades globais.

Edgar Morin é outro exemplo do investigador "possesso" de imaginação e de poder criador. Mesmo como filósofo (e porque vive a dialéctica em ver de unicamente a teorizar) Edgar Morin cria, quer dizer, nele são indissociáveis Imaginação e Acção.

A ele se aplica, com propriedade, o feliz neologismo de que Alfred Willener fez centro e título da sua última Obra: Image-Action de la Société ou la Politisation Culturelle (Ed. Seuil). Image+Action = Imaginaction: aqui se contém todo um programa.

A imaginação no poder, que André Malraux, na entrevista à Der Spiegel aqui reproduzida, considera uma utopia, é de facto uma utopia: simplesmente para a nova geração de pensadores, acção, poesia, dialéctica e pensamento parecem estar a viver um processo de perfeita simbiose. Já ia sendo tempo de vermos a dialéctica passar dos livros ao único lugar onde existe: a vida, seja ela, a das coisas seja a dos símbolos.

A música e a poesia por computadores apenas transferem para outros campos os problemas da hiper-análise que antes pareciam exclusivo das ciências e técnicas. Apenas adiam os problemas.

Tempo virá em que o músico e o poeta "como técnicos" sintam a mesma necessidade de religação à unidade ou totalidade vivencial, a mesma urgência de reidentidade que toca o homem alienado (desidentificado consigo) necessariamente sente.

Talvez o reencontro seja então decisivo: nessa altura já todos - artistas e investigadores - atravessaram a trágica experiência do parcelamento, da desintegração, da hiper-reificação. E então, também aí a dialéctica em acção e a acção dialéctica será um processo irreversível.

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A LIBERDADE NO TRAJECTO AC

1-1 - 70-06-14-ls-segunda-feira, 9 de Dezembro de 2002-scan

A RAZÃO DE OUTRAS RAZÕES (*)

14-06-1970 - Não seria difícil encontrar os pontos comuns que aproximam os vários testemunhos compilados neste livro (1): pensamento de vanguarda, em todos eles existe a preocupação de analisar e criticar o presente, visionando, contudo, as necessidades e virtualidade de amanhã.

Um ponto há comum a quase todos: a relatividade cultural.

Quer dizer: cada vez se compreende melhor que o homem, na acepção de espécie ou raça humana, não é apenas o ocidental, segundo os padrões e modelos que foi mais ou menos impondo a todo o mundo.

Há o direito e a urgência de dar voz a outras vozes, de fazer entrar na História outros tipos culturais (outras "epistemologias", diria Foucault) e a antropologia, finalmente ciência porque universal, abre-se às novas formas do humano, conhecidas e por conhecer, até agora menosprezadas ou ignoradas, porque a espécie se apresenta de facto una mas diversa, susceptível de diversos padrões de comportamento que são outros tantos universos culturais.

Especialmente Desmond Morris, Arthur Koestler e Michel Foucault, acentuam a urgência de dar razão às outras razões que não apenas a greco-latina, romana, judaica e adjacentes.

Caminhar-se-á, de facto, para um mundo de tolerância, embora através de intolerâncias e violências sem conta?

Haverá um equilíbrio universal, de que muitas vezes nos não apercebemos, dentro da nossa óptica forçosamente limitada porque humana, mas que testemunhos como alguns dos que aqui divulgamos nos ajudam a consciencializar, lenta e penosamente como todo o processo gestativo?

Sempre que observamos uma hipertrofia, um desequilíbrio ou um paroxismo, não haverá sempre, algures e em surdina, em silêncio e anonimamente, o seu contraponto positivo, o seu termo de correcção, o seu contrário dialéctico?

Sem esta esperança de três interrogações, a História, de facto, apodreceria sem remédio e à espécie humana não restaria mais do que uma asfixia gradual, nas carências primeiro, na abundância e no tédio, por último.

Não foi por acaso que ao termo alienação - que figura no título dessa breve antologia - quisemos adiantar o de liberdade. Se são mais intensos, audíveis e trágicos os sinais da primeira, não deixam, porém, de ouvir-se já, através de alguns porta-vozes ou mais lúcidos, ou mais sensíveis, ou mais prospectivos, os sinais da segunda.

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(1) - "Alienação e Liberdade no Pensamento Contemporâneo", textos de John Robinson, Arthur Koestler, Michel Drancourt, Alfred Fabre-Luce, Jean William Lapierre, André Amar, Desmond Morris, Michel Foucault e Raymond Aron. Colecção "Cadernos do Século", nº 7, Ed. "O Século", Lisboa, 1970.


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LEITURAS MARCANTES NO TRAJECTO AC





1-11295 caracteres - autobiog-not-leit - projectos literários ac - leituras que me marcaram (o que ficou no meu subconsciente) etc

LISTA DE LIVROS AUTOBIOGRÁFICOS
PARA PROJECTO DE ESCRITA AC PRIORITÁRIO
[PERSONAGENS REAIS OU/ E DE FICÇÃO
COM AFINIDADES ELECTIVAS COMIGO]

31/5/1992 -
Dostoievski - «O Homem Subterrâneo»
Sartre - «Erostrate» (vd in «O Muro»)
Camus - «O Estrangeiro» (Mersauld) -- «A Queda» -- «Calígula»
Dino Buzzati - «O Deserto dos Tártaros»
Tolstoi - «A Morte de Ivan Illich»
Santo Agostinho - «Confissões»
Samuel Beckett - «Molloy» -- «Malone Meurt» -- «Comment C'est»
Chestov - «As Revelações da Morte»
Unamuno - «O Sentimento Trágico da Vida»
Kierkegaard - «Diário de um Sedutor»
M. Cioran - «Précis de Décomposition»
Georges Bataille - «Somme Athéologique»
Rilke - «Os Cadernos de Malte Brigge»
Gaciliano Ramos - «Angústia»

OUTROS ESCRITORES SEM OBRAS ESPECIFICADAS:
- Berdiaev
- Raul Brandão
- Buda
- Ésquilo
- Fernando Pessoa
- Nietszche
- Sófocles
- Soloviev ■

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BATAILLE DESAFIA HABERMAS


arcaico- sexta-feira, 14 de Junho de 2002 - 1799 caracteres – manifest - livros - notas de leitura – rascunhos de leitura

BATAILLE DESAFIA HABERMAS(*)

AS VOZES FÓRA DO CIRCUITO SÃO MODERNAS
E TANTO MAIS MODERNAS QUANTO MAIS ANTIGAS

31-5-1992 - Modernidade é tudo o que escapa ao discurso filosófico da modernidade. Vozes, perspectivas e discursos que estejam fora do controle racional moderno, são, com certeza, modernos.
Visões do mundo testemunhadas por «out-siders» - a criança, o deficiente, o louco, o delinquente, o condenado à morte, o esquimó, o analfabeto, o navegador português de quinhentos, o (...), são os modernos de todos os tempos.
Situações-limite são as únicas que podem originar um discurso moderno.

E se moderno é tudo o que escapa ao «discurso filosófico» porque lhe é irredutível, temos uma pista possível para ler selectivamente o tratado de Jürgen Habermas, artilhado com toda a blindagem de erudição pesada e da microanálise do pormenor.
Irredutíveis ao «discurso filosófico», os modernos como Artaud, Beckett, Kierkegaard, Kafka ou Nietzsche podiam pedir contas ao professor Jürgen se porventura ele os tivesse incluído neste seu gigantesco estudo. Mas só Nietszche, entre os absolutamente modernos, parece continuar a fascinar os teóricos de Frankfurt. E, um pouco na «terra de ninguém», Georges Bataille, expulso por Breton do grupo surrealista mas que, por conta própria, continuou quase irredutível à conversão da experiência-limite - moderna - em gordurosa teoria para uso de infatigáveis analistas da moda.
Quem vive não pensa e quem pensa não vive. O choque entre Kierkegaard e Hegel é um episódio que prudentemente se omite por ter tornado demasiado clara a linha de demarcação entre o que era - moderno - e o que não era.
Ao analisar Heidegger, Hegel, Walter Benjamin, Horkheimer, Adorno, mesmo Castoriadis, não se aventura nas terras inóspitas dos autores «irracionalistas». Schiller, também analisado, não sei se gostaria da graça. Mas com Bataille o terreno torna-se movediço para Habermas.
-- - - -
(*) Ver texto de Afonso Cautela publicado no jornal «A Capital» («Livros na Mão»), 26/Março/1991 http://www.catbox.info/big-bang/gatodasletras/habermas-1.htm

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HEIDEGGER, HABERMAS E ALTHUSSER

1-2-ano-zero- sexta-feira, 14 de Junho de 2002 - 5409 caracteres -modernid-manifest-livros-flashback da modernidade – rascunhos de leitura

A CRISE DOS ECOSSISTEMAS
A QUE CHAMAM MODERNIDADE E PÓS MODERNIDADE


A Crise que estamos hoje a viver é apenas, o último capítulo dessa história do progresso como meta e mito ou da Modernidade como um combate interminável para a definitiva reificação do homem.



31/5/1992 - Se pós moderno significar pós industrial, os conceitos clarificam-se e a gente entende-se melhor. Tal como os filósofos têm teorizado, porém, tudo parece votado a uma certa neblina, surgindo ao leigo um discurso cada vez mais obscuro sobre o que as autoridades e especialistas entendem por moderno e pós-moderno.

*
O escândalo político que estalou à volta de Heidegger, figura tutelar do modernismo, não foi nem será provavelmente o último episódio de um folhetim que promete novos desenvolvimentos, à medida que o tempo passa e torna obsoletos - matéria de museu e antiquário - os modernismos mais na moda. Será que - perguntam alguns - também no campo das teorias o sistema entrou em derrocada, a modernidade envelheceu, as vanguardas criaram rugas e os carismáticos gurus, afinal, estavam do lado dos mais óbvios tiranos?
Há quem sobreviva através de um poderoso aparelho de erudição e/ou publicidade, como no caso de Habermas, recentemente traduzido para português, há quem entre na corrente das facilidades de consumo como Lipovetsky, há quem confunda o simples e torne ilegível qualquer discurso como Baudrillard e Lyotard, facto que lhe retira leitores mas lhe garante lugar certo no panteão dos pensadores e da filosofia ocidental.
Mas se quisermos avaliar a raiz da árvore pelos frutos que dá (o imperialismo industrial que se diz triunfante por todo o Orbe) a conversa muda um pouco de figura e a pós modernidade fica paredes meias com o ano zero da nova Idade da Pedra.
*
Creio ter sido Einstein quem disse que a quarta guerra mundial será à pedrada, se a terceira se consumar.
Talvez por isso o debate sobre a modernidade não seja tão académico como o têm feito alguns teóricos e universitários e talvez a presente Crise, com maiúscula, tal como os dois choques petrolíferos anteriores, não sejam meramente por acaso mas subprodutos estruturais de um sistema e da «filosofia do progresso» que lhe subjaz.
As famosas «crises», no fundo, reflectem, como num espelho, a estrutura do sistema que há demasiado tempo vive de ir matando os ecossistemas. Guerra química, guerra biológica, guerra nuclear são, enquanto indústrias de paz e com fins pacíficos, a nata da Modernidade e desde a segunda Grande Guerra o cavalo de batalha da oposição e resistência radical-ecologista, única filosofia a opor-se, sem medo, a todas as filosofias do progresso e das luzes.
A Crise que estamos hoje a viver é apenas, o último capítulo dessa história do progresso como meta e mito ou da Modernidade como um combate interminável para a definitiva reificação do homem.
*
Só a esta luz (da vela) pós-apocalipse, faz sentido continuar o debate que nuns casos se tornou académico, em outros um mero arranjo de eruditos e, em outros ainda, uma forma velada de colaboracionismo com o poder estabelecido.
A modernidade que está nos livros dos filósofos de carreira é antes a pré-história: os cenários de guerra que se traçam neste momento, biológico, químico e nuclear, provam que a ecologia não é uma reivindicação de cientistas «lúcidos» mas uma ciência gerada nos crematórios industriais contemporâneos. Sem a consciência e a recusa disto, toda a filosofia e toda a modernidade é colaboracionista no sentido mais prónazi do termo.
*
Indústrias com « a morte na alma» jamais poderiam ser pacíficas porque traziam no ventre a (lógica de) guerra: desde 6 de Agosto de 1945 que o aviso estava dado, mas mais uma vez foi esquecido. 45 anos depois, ainda há muito gente a procurar compreender porque não pode o Ocidente, afinal, estar quieto, sossegado e em paz. E, o que é pior, ainda há muitos filósofos que teimam em não perceber.
Relativamente aos filósofos que era suposto encontrarem-se de mãos limpas, deverá constatar-se que nem só no campo editorial os autores de teorias se sentaram no banco dos réus. De alguns já anteriormente divulgados entre nós, como Popper e Althusser, voltou a falar-se e de maneira desconfiada, como se os intocáveis começassem a dar mostras de evidente decrepitude e desmandos mentais.
Uma entrevista de Popper à revista alemã e que o jornal «Público» divulgou entre nós, é a apoteose da demência senil e deve ter deixado os seus discípulos em palpos de aranha. O falecimento de Althusser, com os artigos necrológicos que motivou, foi outro dos acontecimentos que se podem incluir neste panorama de sistemática desconfiança, de má fé que à volta dos construtores de sistemas se estabeleceu num tempo em que os ecossistemas começam a protestar mais alto que as palavras contra os abusos da Modernidade científica e tecnológica.
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Entre os filósofos mais falados nestes últimos 12 meses, Heidegger foi vedeta mas um outro se tornou placa giratória de debates e controvérsias: Habermas, na oportuna tradução para português dessa obra esmagadora, para ler a vida inteira, que é o discurso filosófico da Modernidade.
*
[Mas quem somos nós para discutir os grandes arranha-céus da filosofia, se vivemos numa cabana, como foi o caso de Kierkegaard frente à mole imensa de Hegel?
De qualquer modo e porque um leitor não tem necessariamente que ser um seguidor de teorias, - exactamente porque gosta de as seguir todas... - aqui fica um rápido apontamento, em flash back, sobre o segundo dos dois livros citados.]■

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